Eu passei o último ano e meio trabalhando nesse projeto e tentando aprender o máximo que podia sobre storyboards e como contar histórias da melhor maneira possível. Escolhi trabalhar com o conto de Vasalisa porque eu cresci com essa história e ela é bastante especial pra mim, assim eu adaptei ela para o formato de roteiro e criei um storyboard de 16min. Aqui está o vídeo final e od bastidores de sua criação!
Quando eu era pequena minha mãe lia uma história chamada Vasalisa do livro Mulheres que
Correm com os Lobos (de Clarissa Pinkola Estés). Ela segue Vasalisa enquanto ela supera situações quase impossíveis com a ajuda de uma boneca vestida igual a ela (que foi um presente de sua mãe). Depois da história, Clarissa apresenta uma análise da história baseada na psicanálise Jungiana. De acordo com ela a boneca é a representação da intuiçao de Vasalisa e cada personagem representa uma parte da psique de uma pessoa. Eu sempre amei a interpretação de Clarissa e queria que ela estivesse mais explicita na história em si, por isso eu passei um bom tempo escrevendo o roteiro e alterando pontos importantes que eu vou explicar melhor mais na frente. Escever o roteiro me ajudou a pensar visualmente. No começo eu descrevia sentimentos e pensamentos quase como se fosse um romance, mas isso não ajudava na hora de desenhar. Eu tinha que lembrar que só deveria descrever aquilo que eu poderia ver ou ouvir.
Eu escolhi usar esse projeto para aprender sobre storyboards. Eles são uma parte da linha de produção de um filme ou série de tv que mais me chama a atenção porque é uma combinação de duas paixões minhas: contar histrórias e desenhar. Storyboards são o esqueleto de um filme, mas também são um parque de ideias, feito pra ser rápido e cheio de sketches, para você testar e experimentar. O foco é na composição de uma cena, atuação dos personagens e poses, sem preocupação com o quão limpo é o desenho. Eu fiquei maravilhada com as possibilidades dentro dos storyboards e comecei a pesquisar tudo que podia. Com isso eu descobri o Storyboard Pro (@toonboomanimation) que é o software mais usado na indústria e comecei a aprender como usar. Foi um desafio porque eu estava aprendendo tudo ao mesmo tempo enquanto fazia, mas foi super divertido!
Vasalisa é a personagem principal e no original não tem muito sobre a aparência dela. No entanto existe ma descrição bem específica das roupas e eu quis ser fiel ao original, então mantive as botas vermelhas, a saia preta, avental branco e o colete bordado. Eu a imaginei sendo mais contida nos gestos e mais expressiva no rosto. As formas base dela são retângulos e círculos.
Primeiro desenho de Vasalisa
Os pais de Vasalisa aparecem brevemente, mas são importantes porque a mãe presenteia a boneca e o pai a conecta com o resto da história.
A boneca é a representação da intuição de Vasalisa e por isso elas usam a mesma roupa. Eu usei bonecas de verdade como referência porque queria que ficasse claro que ela não é um mini ser humano, mas realmente uma boneca. Eu escolhi não desenhar uma boca e ela não fala porque como intuição nunca é clara como a fala, a boneca tem uma maneira própria de se comunicar.
Baba Yaga é uma bruxa muito temida e aparecec em diversas histórias além da de Vasalisa (tipo o velho do saco europeu). Ela é sempre representada como má e assustadora, mas ao mesmo tempo a palavra Baba é usada pra designar “avó” ou “vovó” nos países em que a história se popularizou. Já que nessa versão ela não é de todo mal (nem de todo bem) e de certa forma ajuda Vasalisa, eu queria manter isso no visual dela. Por isso as formas base dela são círculos (amigável) e triângulos (perigo).
Nessa história, alguns personagens secundários são tão interessantes quanto os principais como a casa de Baba Yaga e os três cavaleiros. A casa é famosa pelos pés de galinha e eu não resisti em fazer a casa realmente se comportar como uma galinha. Já os cavaleiros representam o dia (branco), o nascer do sol (vermelho) e a noite (preto) e ajudam a mostrar a passagem do tempo.
Essas são Margaret (madrasta) e Marnie (enteada) e elas são as clássicas personagens maléficas. Margaret se irrita com qualquer um e qualquer coisa que não seja ela mesma e Marnie é mimada e não pensa muito em nada. Eu me inspirei no clássico combo de Cinderela, assim como nos personagens criados por Roald Dahl: Dona Trunchbull de Matilda and Spiker e Sponge de James e o Pêssego Gigante.
Primeiros desenhos delas
Esse é a abertura da minha história, e sem dúvida a parte que passei mais tempo fazendo. O segundo vídeo é da primeira ideia que eu tive, segue exatamente o que é descrito no livro, mas não funciona muito bem. Depois de MUITO tempo tentando e testando é que eu cheguei no primeiro vídeo. Eu decidi manter a mesma frase porque ela traz um ar de mistério e então deixo a noite nos guiar até a casa de Baba Yaga e ela nos convida a entrar no históra. Eu decidi compartilhar os dois vídeos porque é interessante ver a enorme diferença e também porque é um lembrete de que nada fica bom de primeira e mesmo que fique a gente só sabe depois de ter feito mais algumas opções.
Primeira Versão
Versão Final
Agora eu gostaria de compartilhar algumas cenas que eu gostei muito de fazer. Essa daqui tem o propósito de mostrar como a Margaret e Marnie tratam Vasalisa. Eu experimentei diferentes ângulos de câmera e perspectiva.
Na história original Baba Yaga diz que só vai entregar o fogo a Vasalisa se ela completar algumas tarefas. Eu mantive a primeira igual ao do livro (separar sementes de papoula de terra), mas mudei as outras. Esse vídeo é da segunda tarefa e eu escolhi a flor íris porque em alguns dicionários de flores ela representa sabedoria. É uma referência ao fato de que essa história também é conhecida como Vasalisa a sábia (ou Vasalisa a sabida). Eu também mudei o fato de que a boneca faz tudo por Vasalisa, na minha versão a boneca aparece do lado de ferramentas, mas cabe a Vasalisa interpretar a dica e criar as soluções.
A última tarefa na verdade não existe no original. Vasalisa ganha o fogo depois de dizer que tem uma benção de sua mãe (a boneca). Na minha versão eu queria que Vasalisa ganhasse o fogo não por algo que ela já tinha, mas por algo que ela aprendeu ao longo da jornada. Também sempre me incomodou o fato de Vasalisa não se impor e eu queria dar uma oportunidade pra ela fazer isso. Então na última tarefa Vasalisa precisa dizer não à Baba Yaga.
Primeira tarefa
Segunda tarefa
Terceira tarefa
Estudos de cena
